sábado, 18 de setembro de 2010

O trânsito e a gentileza.




         Certa manhã, houve um transtorno no trânsito, pelas mediações do Centro administrativo municipal de João Pessoa. “Que trânsito horrível!”, dizia um urubu apressado, que voltava do trabalho para casa, no final da tarde. 
          É muito congestionamento, devido ao mal planejamento do tráfego, e à quantidade exorbitante de carros que há na capital pessoense (a sensação é a de que há mais carros do que condutores no trânsito; a coisa é tão séria, que vez ou outra, encontra-se algum automóvel andando por aí sozinho.).
             Somando-se a estes problemas citados acima, há as (des)cargas emocionais nas quais estão presentes em cada motorista que dirige seu veículo seja uno, pálio, ka, gol, cívic, fusca, bmw, brasília,... jegue... motos, bicicletas. Não importa, há presença do mal vindo stress!
             O fato é que o condutor tornou-se uma soma de desequilíbrios, de stress, de pressa, de preocupação, de ansiedade entre outros. Então, “a melhor saída” para alguns desestressarem, nesses momentos, é dar porrada na buzina como se fosse no condutor da frente. Aí está o concerto de buzinas, repugnado por Beethoven, pois há tantas buzinas desafinadas! A intenção é lógica: a de irritar, e se for o caso, esquartejar o carro dianteiro porque “ele não andaaaa”! Como a visão de quem está atrás é um pouco limitada, o condutor que se encontra atrás e apressado, fica impaciente e perde a noção de que o carro da frente está tão imóvel e esperando quanto ele! Por enquanto, ainda não inventaram asas para carro!
            Então, arriscar-se a dirigir, a fazer parte do planeta trânsito, são para aqueles que tem habilidade de lidar com o diverso, ou seja, quem tem paciência de enfrentar antas, lesmas, loucos, estressados, violentos, estúpidos, sociopatas, etc. A estas pessoas, dar-se -ão o nome de virtuosa e inteligente, emocionalmente, falando. Quem disse que ter um carro é somente sinônimo de luxo, de antistress, de facilidade e rapidez? Isso foi na época que Henry Ford! Pensar que ter carro era sinônimo de ascensão e prestígio social, apenas.
           Atualmente, alguns dizem que carro não é luxo, é necessidade, há de se concordar em parte, pois sabendo que atrelada às essas necessidades, vem o implícito: dores de cabeça, esgotamento, exaustão, cansaço, doenças, colisões... Comprar um carro implica enfrentar obstáculos, tanto das inúmeras parcelas, do seguro, do emplacamento; quanto do relacionamento que seu carro deverá ter ao compartilhar as mesmas vias com outros tantos mil. Isso requer muita paciência, tem quem passar pelo menos, uma semana no Tibet, com o Dalai Lama, além de passar as férias no Detran.
          Apesar de tantos congestionamentos enfrentados, tantas células cancerígenas ( que podemos desenvolver ao eliminar nossas toxinas), devido a esse stress, aqui jaz uma solução: assim como os ônibus trazem no alto informações eletrônicas piscantes tais quais; o local a que se destina, o itinerário e sua numeração, foi criada uma lei, no código internacional da utopia rodoviária, que, a partir de hoje, exige a presença de um painel eletrônico com mensagens de gentileza (“sorria você está vivo, por isso está dirigindo”; “ desculpe-me eu não posso ultrapassá-los”; “ eu também estou no mesmo engarrafamento que você, vamos escutar músicas?!”; “você é especial para alguém, pare de reclamar!”; “ não se estresse, a vida e bela!”; “ o trânsito vai melhorar, tenha paciência!”;“ o vizinho precisa de um sorriso seu!”...).Lembrando que essas mensagens são pré-programadas pelo Denatran, Contran, Detran, Sttrans, Cptran e PRF. Então, não há possibilidade de surgir no painel um “vá se f...” e nem propagandas que proporcionem poluição visual.
          Frases como essas supracitadas, têm o objetivo de amenizar a agonia de cada condutor ao se encontrar numa situação-limite. Também tornou-se obrigatória a apresentação de slides, no vidro do porta-malas, com imagens de reflexão, que acalmem e transmitam paz para o condutor alheio. Além de buzinas que digam “ com licença, por favor!”; “obrigada (o)”; “ Seja cuidadoso, ande devagar”. Essa é a mais eficiente psicologia aliada à tecnologia, feita para automóveis e para condutores, presente nos últimos anos! Para que tudo isso aconteça é necessário adaptar um computador de bordo em todos os veículos, inclusive jegues, bicicletas e motos; não se preocupem com gastos: claro que esse aparelho será doado pelo governo! Estamos em época de eleições, aproveitem e peguem os seus!
           Já que equipamos nossos carros com tantas parafernalhas: fumê, sensor de ré, sensor de peido, som, auto-falantes, rodas, teto-solar, geladeira, dvd, microodas, banheiro, etc. Que tal adaptamos no vidro traseiro um telão de informações positivas para outrem? O meu carro, enquanto “cidadão sociável”, já fez a parte dele: transmitir gentilezas, sorrisos, mesmo sabendo que “ a vez era minha, já que eu estava contornando o girador”.

Andressa Fabião

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Para uma universidade greco-paraibana


No século V a.C, na Paraíba antiga, nas mediações do Parque Solon de Lucena com o Rio Sanhauá, havia uma universidade, a Paraídea, que tinha como maior objetivo formar políticos paraibanos. Era uma instituição cujo interesse era despertá-los para uma educação que desenvolvesse integralmente o indivíduo em todas as suas virtudes, pois quanto mais ocupada a mente e cansaço físico, menos tempo tinham para transgredir - a corrupção é tão antiga quanto a Pangea.
A grade curricular da Paraídea estava voltada para uma educação conscientizante, ou seja, uma educação onde os políticos pagavam disciplinas que envolviam um conhecimento profundo sobre a gestão pública e suas dimensões.
As cadeiras pagas por eles eram chamadas: Ética I II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX e X (ministrada por um professor, conhecido como “Edson Bildung”), pois para as intenções do Projeto Político Pedagógico da universidade, era necessário que eles conhecessem a dinâmica da alteridade. Nessas disciplinas havia rigidez nas avaliações: os alunos que não obtivessem aproveitamento máximo em cada exame escrito estava fora, não poderia ocupar o cargo, pois política, para aquela nação, tinha sinônimo de seriedade, compromisso e muito estudo. Outra disciplina que aprendiam era Retórica Popular I, II,III e IV, ministrada pelo professor Zé Sócrates, considerado um “monstro” da educação popular. Eles aprendiam a argumentar em favor dos direitos e deveres do povo. O sistema de avaliação era o mesmo: prova escrita, prática e depois a defesa de uma tese.
Além disso, tinha Música, uma cadeira que fazia parte do currículo, pois era necessário que os políticos tivessem sensibilidade aguçada, ouvido absoluto, para entender o ser humano e seu meio. Eram obrigados a dominar um instrumento, pois a arte demonstrava o lado poético, subjetivo, do estudante, sendo um pré-requisito fundamental.
Aprendiam sobre cidadania, sobre as leis que regem o estado, epistemologia da política, filosofia geral e da política, compreendiam o que era o poder, entre outros fundamentos. Nessa universidade, havia um seminário temático que tinha o objetivo de fazer uma transdisciplinaridade e cabia aos professores preparar esse evento para avaliar o que os discentes haviam aprendido e construído nas disciplinas; o povo fazia parte desses debates.
Havia uma disciplina muito curiosa e ao mesmo tempo relevante: crime e castigo I, II,III, ministrada por um professor muito rígido conhecido como “O Espartano; nela, os alunos passavam por uma simulação de penalidade, onde eram submetidos a terem que ficar numa cela, com pouca água, comida. Nesse momento, eles tinham desde já, noção de pena, caso fosse descoberto, em sua gestão, alguma ilegalidade.
A Paraíba, no século IV a.C., vivenciou um momento de apogeu no âmbito político. Os cidadãos eram compreendidos, envolvidos com a política, pois ali, em época de eleições, ir a um debate político em praça pública, era considerado entretenimento. Os políticos tinham procedência, tinham habilidades e inteligências desenvolvidas, sabiam fazer projetos e discursos sem ajuda de assessores, tinham uma boa retórica, criatividade para mostrar suas ações vindouras.
Era uma dificuldade para os paraibanos antigos escolherem um candidato, pois todos eram bons e tinham propriedade no assunto e credibilidade legítima. Nessa época, não se ouvia falar em palavrões como: nepotismo, ficha limpa, manchada ou suja. E também, não havia obrigatoriedade para votar, uma vez conscientes, sabiam que suas participações eram importantes enquanto cidadãos, afinal aquilo que existia na Paraíba antiga era uma Real Democracia e não um sistema fantasiado de ditadura.
Como todo império é passível de queda, o sistema universitário perdurou apenas por alguns anos, porque à medida que passavam os governos, cada um reformulava o currículo da universidade, já que ele era aberto, passível de mudanças. Isso enfraqueceu à antiga universidade, e com o passar de longos anos, não era mais exigido o curso superior de Gestão Pública para entrar no poder. Foi quando o conceito de política começou a ser modificado para um mais maleável, que atendesse não só aos interesses dos políticos, mas de todos que fossem de um mesmo grupo.

Hoje, na Paraíba moderna, “revolucionada” muitos não fizeram nem supletivo para compreender a política, poucos tem formação superior em Gestão Pública. É lamentável a realidade que nos encontramos agora, pois a cada horário político que passa tenho a convicção de que somos plateia de um circo cheio de palhaços sem graça. Não há prazer nenhum em ouvir o que eles têm a dizer, porque não me dizem nada, nem se quer convencem.
Dizem num dito popular que “nós estamos entregues às baratas”, eu digo que estamos entregues aos políticos.

Andressa Fabião