terça-feira, 7 de junho de 2011

A Língua Portuguesa como instrumento de poder para todos na sociedade.


A linguagem humana sempre foi um dos pré-requisitos para estabelecer as características da cultura de um povo. Das antigas civilizações ao século XXI, podemos perceber o quão a língua dentro da esfera social estabeleceu-se como instrumento de força, de poder, de status social e de prestígio, sobretudo na linguagem oral. O Latim erudito era falado apenas por aqueles que compuseram o vértice da pirâmide social, já o Latim vulgar, pai do nosso idioma, era proferido por aqueles que se encontravam na base do triângulo social. Essa “herança” influencia, até hoje, nosso modo de ser, de agir, pensar e principalmente na maneira de falar porque na fragmentação social sempre houve aqueles que gozavam de mais prestígios, que tinham acesso aos livros, à cultura e à educação, e, outros que ficavam à margem social, sem acesso aos meios educativos e desprovidos de recursos.
E o que é que a Língua Portuguesa tem a ver com isso? Tudo! Primeiro, porque ela é um órgão vivo assim como o coração, os pulmões, o cérebro, enfim, inerente a qualquer ser vivo que se preze enquanto falante inserido num contexto, independente de camadas sociais; jamais ouvimos falar que o coração de um rico pulsa 'melhor' do que de um pobre. Segundo, porque é através da língua materna que, em quaisquer circunstâncias da vida, os seres humanos interagem, transformam-se e se emancipam; a língua promove ou destrói qualquer indivíduo, desde que ele saiba usá-la, e terceiro: é ela quem dá suporte a outras ciências para que estas sejam compreendidas; não tem como ler um livro de filosofia se eu não compreendo o mínimo da língua escrita.
A Língua Portuguesa é um bem cultural comum; tanto para pobres como para ricos. Então, não há como mumificar a linguagem humana, desprezando todas as suas capacidades de mutação; melhor dizendo, não há como determinar o “certo” e o “errado”, uma vez que para ser um bom falante do idioma, basta que o indivíduo utilize a adequação no ato comunicativo. É errado eu escrever “vc” numa janela de bate papo na internet? Não, pois o que está em jogo é o contexto comunicativo que exige agilidade. Muitos ainda sofrem de miopia aguda quando comparam a linguagem escrita à linguagem oral, já que não há como comparamos um morto, em termos de vitalidade, a um vivo.
A língua, além de ser um organismo vivo, tem a necessidade de se atualizar, de ser dinâmica conforme as necessidades e o contexto do falante. Por isso, é plausível, extremamente necessária e moderna a ideia de termos em nossos materiais didáticos as diversas possibilidades de compreendermos os níveis de linguagem; “É tornar-se poliglota do próprio idioma”, como disse Evanildo Bechara. Já aqueles que desprezam essas possibilidades de entender o todo da ciência linguística, podemos afirmar que são partidários de que é um absurdo aprender o inglês, francês, carioquês, internetês, paraibanês, etc, já que trata-se de uma língua diferente. Reafirmo: não há português errado quando trata-se de oralidade. Agora, como todo idioma que necessita de estrutura, de um padrão para reger a escrita, se faz necessário utilizar a norma padrão, em um dado momento, quando o gênero textual exige toda formalidade possível.
Como se não bastassem esses pequenos exemplos supracitados, ainda é possível observarmos inúmeras pessoas divergindo acerca da cartilha do MEC que ensina o “Português errado”, gente que vive corrigindo os outros quando pronunciam uma concordância verbal “errada”, pessoas que adoram zombar de outras que fogem ao padrão culto da língua. Abaixo o preconceito linguístico! Pois essa prática baseada numa ditadura fragilizada é que está ultrapassada, equivocada e extremamente desatualizada. Atentemos para o fato de que a diversidade linguística existe e devemos estar aptos às novas possibilidades de comunicação, em vez de estarmos criticando sem nenhuma fundamentação linguística o diferente.
Embora a língua seja um instrumento de poder no meio social, ao observarmos os linguajares “bonitos”, “ convincentes” que supostamente conferem credibilidade e estão adequados às sintaxes da vida, é fundamental averiguarmos um fato: o prestígio linguístico deve ser para todos e não para uns. Aplaudamos o falante da gramática quando ele for bem vindo dentro da sua circunstância; fiquemos de pé e aplaudamos também aqueles que estão abertos a compreender os novos horizontes dos estudos linguísticos o qual engloba todas as falas humanas.


Andressa Fabião