quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Quando a culpa não é do “sistema”




         Ao falarmos em educação mal sucedida, sempre arranjamos um culpado: o sistema - que não diz respeito apenas a um órgão, a um livro didático, nem muito menos a um professor; até parece que o sistema é uma “pessoa” má. O sistema, por definição, é um conjunto de meios e processos para alcançarmos determinado fim. Trata-se de um conjunto formado por vários elementos. Ao termos uma concepção falha, acerca das problemáticas educacionais, a culpa não é do sistema, mas é minha, é sua, leitor, e é de todos os outros elementos que compõem a sociedade, exatamente pelo fato de nós sermos o próprio sistema o qual estamos acostumados a criticar sem arranjarmos soluções para as nossas próprias inquietações.
         O contexto educacional brasileiro, embora traga nódoas do passado, está cansado de ser alvo de tantas críticas negativas, tantos clichês, tantos insultos de gráficos que sempre se encontram em baixa; insatisfações de números, enquetes, enfim. Nada disso mudou em 500 anos e não irá mudar, caso nossa conduta, enquanto cidadãos, seja a mesma. Há necessidades de analisar o velho e cansado discurso, as atitudes; é preciso reconhecer os problemas e direcionar nossas energias para solucionarmos as “pendengas” que atrapalham nosso crescimento. Já que educação nasce no homem, é parte da saúde humana, ela se conservará doente se não fizermos um diagnóstico preciso para utilizarmos os remédios certos.
          É possível transformar o sistema, se aproveitarmos o pouco de bom que nele existe, e isso está presente nos pensamentos críticos que nós devemos ter, na autorreflexão, no respeito ao outro, no bem comum e no reconhecimento de que é preciso reavaliarmos nossa compostura ao exercermos a prática. O primeiro passo para que haja mudança na situação educacional é reconhecer que a culpa também é nossa; o segundo, é saber dos reais problemas existentes para que tenhamos respaldo com o intuito de exigir nossos direitos e cumprir nossos deveres e o terceiro passo é ter o compromisso de solucioná-los coletivamente com objetivo de levantarmos a autoestima dos números que aparecem nos rankings.
         Muitos países que se encontravam em situações delicadas, com o sistema totalmente destruído, solucionaram seus problemas ao investirem suas “almas” na educação, isso aconteceu porque acreditaram na mudança. A Coreia do Sul, por exemplo, encontrava-se estagnada no pós-guerra, quando decidiu recomeçar sua estrutura social pela educação. Hoje, temos uma superpotência educativa invejável; observamos crianças no jardim da infância montando máquina digital, professores bem remunerados, políticos comprometidos com suas obrigações, pais presentes, materiais didáticos que despertam a criatividade, tempo integral, didáticas atrativas, enfim, optaram pelo bom funcionamento do sistema. E o Brasil? Será que ele conseguirá, mesmo nos contos de ficção, alcançar esse nível? É possível se não achamos pouco provável. Quantos de nós, ao lermos este texto, não pensamos em utopia? A falta de credibilidade atrapalha nossas ações, pois criticamos sem fundamento e estamos desacreditados com a ideia de que nada muda em se tratando de Brasil.
           Quando o assunto é sistema, refiro-me a um que prevê a mudança a partir da educação planetária que harmoniza partes funcionais e bem sucedidas em detrimento de um todo organizado composto por leis que visam o bem de todos e não apenas de uns; além de professores bem preparados e reconhecidos, salas de aula que deem suporte estrutural para acolher os alunos, pais que se fazem presentes na vida do filho e o próprio estado ao garantir qualidade à população. Há de se acreditar naquela transformação que está intrinsecamente ligada aos nossos “eus” e ao globo de um modo genérico, àquela que transcende para um bem estar social e que faz uma nação ser reconhecida e respeitada pela seriedade das pessoas que a compõe. Eu, parte do sistema, tenho esperança de que, após a vitória dessa guerra, alcançaremos não só números elevados nas pesquisas, mas também o respeito, a dignidade que qualquer país precisa ter.

Andressa Fabião